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Carta do gestor - Setembro/23

Influências Externas O mês de agosto encerrou a sequência de altas do Ibovespa e das bolsas globais. A performance negativa dos ativos de risco aconteceu na esteira da alta relevante nas taxas de juros longas dos Estados Unidos e, ainda, devido à divulgação de dados fracos de crescimento da economia chinesa. O S&P 500 recuou -1,77%, enquanto o Ibovespa caiu mais de 5% no mês.

A principal tônica dos mercados em agosto foi a dinâmica de elevação das taxas dos títulos mais longos do tesouro americano. Esse movimento pode ser explicado, majoritariamente, por dois fatores: i) os dados de atividade têm surpreendido os investidores, demonstrando uma economia bastante resiliente e distante de qualquer recessão, mesmo que moderada, o que sustenta a ideia de que o FED deve manter as taxas de juros elevadas por mais tempo (higher for longer); ii) rebaixamento do risco de crédito dos EUA com a deterioração recente do déficit fiscal, o que aumenta o custo de financiamento do Tesouro. Além disso, a China ajudou a concretizar o humor negativo dos mercados no mês, com o estresse no setor imobiliário atingindo a gigante Country Garden, dados no setor industrial e de varejo decepcionando e, ainda, medidas bastante tímidas de estímulo à economia anunciadas pelo governo.

No Brasil, o fantasma fiscal voltou à pauta. Tivemos a aprovação do novo arcabouço fiscal que prevê déficit zero em 2024. Para atingir esse objetivo, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLOA) de 2024 trouxe um cálculo de R$ 168 bilhões a ser atingido por novas medidas de arrecadação, como a recuperação de créditos no CARF, o fim da dedutibilidade de JCP, a tributação de fundos fechados, subvenções de ICMS para investimento, entre outras. Parece pouco provável que todas as medidas sejam aprovadas e ainda mais improvável que todas sejam eficazes em cumprir a arrecadação prevista. O consenso de mercado, segundo o Boletim Focus, aponta para um déficit de 0,7% do PIB em 2024, colocando em xeque o compromisso do governo. De fato, parece improvável tamanho aumento de arrecadação e, tendo em vista a pouca disposição do Estado para o corte de despesas, essa meta parece cada vez mais distante.

O grande problema nessa discussão, não é o descumprimento da meta, mas o que o governo faria caso não a atingisse. O novo arcabouço lista alguns gatilhos que devem ser acionados nesse caso e que penalizam os gastos do governo no ano subsequente. Fica a dúvida se as penalidades seriam aplicadas ou seria proposta uma flexibilização/alteração da meta? A última opção descredibilizaria todo o avanço feito pelo Ministério da Fazenda no atual mandato e poderia culminar na perda brusca de confiança por parte dos investidores, com uma consequente saída de capital do Brasil - o que, sem dúvidas, seria a pior alternativa. Entendemos esse como o principal risco doméstico para o desempenho dos ativos de risco locais no curto e médio prazo.

Apesar do início do afrouxamento monetário pelo Banco Central em agosto, e ainda considerando toda a perspectiva positiva que esse ciclo traz à economia, ficamos expostos à dinâmica negativa internacional no último mês e os ativos locais reagiram a esse contexto. Além da bolsa, o câmbio, que encerrou julho próximo a R$ 4,70, desvalorizou e voltou a flertar com o patamar de R$ 5,00. Por outro lado, merece destaque o mercado de crédito privado, que teve o primeiro mês com fluxo positivo para fundos da classe desde dezembro de 2022. Além disso, seguimos vendo fechamento dos spreads no mercado secundário, o que parece indicar que o pior momento de crédito ficou para trás.

Vale ressaltar, que, como qualquer país emergentes, estamos suscetíveis às influências externas, mas não enxergamos deterioração dos fundamentos econômicos. Mesmo com uma atividade surpreendendo positivamente, seguimos trajetória de desinflação gradual condizente com o cenário do Banco Central de cortes de 50 bps nas próximas reuniões do Copom. Matemos nosso otimismo, mas como pontuamos em nossa última carta: “...vale lembrar que os ativos de risco surfaram forte alta generalizada nos últimos meses e, apesar de continuarmos enxergando retornos atrativos na classe, no curto prazo, provavelmente esta alta não se repetirá, podendo, inclusive, ter correções pontuais. O momento pede seletividade e expertise na alocação. Seguiremos juntos.”

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